domingo, 16 de março de 2014

Arroz de Pato




Adegão Português: arroz de pato e de cabrito com vinho de Carlos Lucas

por 

 

Gosto tanto, mas tanto, mas tanto de arroz de pato, que este é dos pratos que mais faço em casa. Se por acaso eu tiver uma boa linguiça portuguesa, é a primeira receita que vou pensar em preparar para os almoços de final de semana com pai e filha, que adoram. Além de tudo, vai sempre bem com um tinto português, dos mais levinhos aos mais encorpados, dos mais ordinários aos mais classudos. Até com um paio vulgar a receita fica bem. Mas um belo chouriço lusitano, claro, faz toda a diferença, porque matéria-prima é tudo na cozinha, assim como na enologia (fazer um vinho medíocre com boas uvas pode acontecer, mas produzir um grande vinhos sem boas uvas é algo praticamente impossível). 
Pois ao arroz de pato eu fui apresentado no Antiquarius, há mais de dez anos, e esta é uma das minhas escolhas mais frequentes no elegante restaurante português do Leblon. Prato reconfortante, que rego com azeite, às vezes com um pouco de malagueta, e acompanho com um tinto alentejano, na maioria dos casos. 
Já pedi o prato algumas vezes em Portugal. Não que estivessem ruins, mas sempre preferi as versões brasileiras, mais molhadinhas.
- Quando cheguei ao Rio de Janeiro e abri o Antiquarius nos anos 1970 eu logo vi que precisaria adaptar algumas receitas, e o arroz de pato é um bom exemplo disso. As pessoas reclamavam que era muito seco, e passamos a servir mais molhadinho, como gosta o brasileiro - contou-me certa vez seu Carlos Perico.
Pois esta semana fui almoçar no Adegão Português, em São Cristóvão, um lugar que adoro, ams que acabo indo menos do que gostaria. O motivo do encontro era provar alguns dos rótulos de Carlos Lucas, que anda fazendo vinhos muito interessantes em diversas regiões portuguesas, em diferentes estilos, com preços bem atraentes, como o São Lourenço 2008, um tinto da Bairrada já apresentando boa evolução, que custa R$ 40, com boa fruta, taninos macios, um vinho elegante, calcário, com notas de alcaçuz e com boa presença, e acidez equilibrada. 
O sommelier Francisco Edcarlos Lopes, ou simplesmente Edcarlos, que vem se transformando em um dos maiores especialistas em vinhos portugueses do Brasil, conquistando vários prêmios e campeonatos (o mais recente foi de vinhos do Alentejo) recomendou o arroz de cordeiro à alentejana, e logo ganhou a minha provação. Alguém na mesa lembrou do arroz de pato. E eu emendei: 
- Olha, eu prefiro o arroz de cordeiro, porque eu já conheço o do Antiquarius.
- Mas o nosso é diferente, você vai gostar.
Não foi nada compicadoconvecer a mesa a fazer um pedido duplo. Elegemos, então, os dois, em fartas porções para duas pessoas. 
Amarelado pelo açafrão, úmido, mas não empapado, e com os grãos bem íntegros, no ponto exato de cozimento, tem a carne desfiada misturada a rodelas de bom chouriço, já bem douradinho, levemente tostado, com a gordura em grande parte já derretida, e descartada. Para temperar, cebola, tomate, cheiro verde, e umas azeitonas pretas (sem caroço) coroando a mistura. Que alegria. Ainda que já estivesse untuoso, ainda reguei o prato com o excelente azeite Principal, também produzido pela Premium Drinks. E umas gotas de pimenta. Fui ao delírio. Achei que é ainda mais gostoso que o do Antiquarius. Queria provar os dois juntos.


Ao lado, o arroz de cordeiro era ainda mais úmido, com uma coloração mais escura, resultado da utilização do molho do cozimento da carne, igualmente com cebola, tomate, cheiro verde, e umas azeitonas pretas (sem caroço). Desta vez, até dispensei o azeite. Mas não a pimenta. Na taça, o Terras do Pó Syrah-Petit Verdot 2009 (R$ 92), da Casa Ermelinda de Freitas, também feito por Carlos Lucas, e produzido na Península de Setúbal. Um vinho com textura, fácil de gostar, encorpado e com boa fruta, uns toques minerais e defumados, fino e macio, com um toque de ervas frescas, que tem presença, do alto de seus 14,5% de álcool.


Encerramos com um mineiro de botas, espécie de omelete, com queijo e banana, coroado com muita canela em pó. E o café.

Um comentário:

  1. Preciso desesperadamente a receita do mineiro de botas. Estou aguando há um mês.
    Agradecida!
    Leonor

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